Professor usa tecnologia 3D para ensinar artes a alunos com deficiência visual
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Projeto incentiva a inclusão de deficientes no estudo da arte, historicamente ancorada em métodos visuais como pintura, desenho e slides
Para ensinar Artes Visuais a alunos com
deficiência visual, o professor da rede pública estadual de ensino Santiago
Lemos passou a usar sua impressora 3D pessoal para imprimir objetos
tridimensionais. O docente faz parte do Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da
Arte da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) e leciona no Centro
Brasileiro de Reabilitação e Apoio ao Deficiente Visual (Cebrav), em
Goiânia.
Por meio do toque, os estudantes
deficientes podem explorar o comprimento, a largura, a altura e a profundidade
de um objeto e assim aprender sobre ele. “Com essas impressões é possível
tatear e conhecer coisas que antes eram impossíveis para a gente, como prédios,
monumentos, o percurso que fazemos para chegar ao Cebrav, e até mesmo o rosto
das pessoas que estudam e trabalham aqui”, destaca a diretora do Cebrav, Marisa
Eugênia.
Durante a trajetória como professor de
Artes Visuais, Santiago Lemos refletiu sobre a inclusão de deficientes visuais
no estudo da arte, em que a maioria das atividades são desenvolvidas utilizando
pintura ou desenho manualmente. Foi aí que ele sentiu a necessidade de oferecer
algo a mais para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. A partir disso,
surgiu a ideia de modelar obras de arte utilizando software de modelagem 3D, como o Autodesk Maya e Zbrush,
com técnicas de luz e sombra para criar o modelo tridimensional.
O professor levou à sala de aula miniaturas de dois monumentos de Goiânia – o Monumento ao Bandeirante e o Monumento das Três Raças – e uma máscara usada nas Cavalhadas, com o intuito, segundo ele, de valorizar a cultura e o patrimônio do estado goiano. Mas a cultura estrangeira não ficou de fora, já que Santiago imprimiu, ainda, o escaneamento facial dos artistas Joaquin Phoenix e Heath Ledger, que interpretaram o personagem Coringa do universo DC Comics.
O professor também fez uma impressão do percurso entre a Avenida Anhanguera e o Cebrav, a partir do Google Maps, e de réplicas de alguns trabalhos do artista Michelangelo, com tamanhos de 12 a 19 centímetros.
“Devemos utilizar e potencializar a tecnologia a nosso favor”, afirmou Santiago. No entanto, ele advertiu sobre as dificuldades da utilização da tecnologia 3D na inclusão dos deficientes visuais, como o custo financeiro e o longo tempo exigido: “Não é fácil a produção desses materiais. Para desenvolver a modelagem de uma peça, gasto no mínimo trinta horas de serviço, tendo como tempo de impressão a média de oito horas".
"Além disso, tem o tempo de estudo sobre o material que está sendo desenvolvido. Mas quando chega nas mãos dos estudantes, é possível perceber que todo esse processo valeu a pena, pois eles conhecem algo que está próximo a eles e ao mesmo tempo distante”, explicou o professor de Artes.