Professores da rede estadual estimulam o aprendizado com o uso de HQs
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Em Goiânia e Luziânia, docentes se destacaram por despertar nos alunos o interesse por disciplinas consideradas difíceis, como Matemática e Espanhol
Aprender brincando. Essa é a estratégia de um grupo de professores da
rede pública de Goiás, que tem usado a linguagem da história em quadrinhos em
sala de aula para motivar os alunos a buscar conhecimento. A metodologia faz
sucesso entre os estudantes e ajuda a despertar novos talentos.
No Colégio Estadual Deputado José Luciano, em Goiânia, o professor de Matemática,
Clodoaldo Gomes de Oliveira, resolveu ensinar sua disciplina de uma forma
diferente. Há dois anos, ele propôs aos alunos do 1º ano do Ensino Médio que
fizessem histórias em quadrinhos sobre o uso da matemática no dia-a-dia. O
resultado surpreendeu o docente, que resolveu adotar a metodologia também nas
outras turmas.
“É uma atividade interdisciplinar que tem o objetivo de despertar o
interesse do aluno, para que ele perceba que a matemática está contida em
qualquer lugar, em tudo o que a gente faz e que não é um bicho de sete
cabeças”, explica o professor que está há seis anos na rede estadual de Goiás.
Clodoaldo ressalta que o estudante aprende mais quando se envolve em
algum trabalho, pois fica mais motivado e criativo. Além de estimular o
interesse dos alunos pela disciplina, o professor conta que descobriu muitos artistas
em sua sala de aula. “Há alunos com talento incrível para o desenho, mas com
dificuldades em matemática. Os estudantes têm muita inteligência, cada um de
uma forma diferenciada, e me surpreendem a cada dia com algo que traz inovação
para eles”, comemora.
Um desses estudantes é Gustavo Rodrigues Aires, que hoje está no 3º ano
do Ensino Médio, mas que há dois anos produziu um gibi que impressionou e
emocionou o professor pela história criada e qualidade dos desenhos. Nos
quadrinhos, Gustavo fez de Clodoaldo um super herói. “O desenho dele é tão bem
feito. Fiquei muito surpreso com a criatividade. Descobri um ótimo desenhista,
um novo talento”, comemora.
Desenrolando o espanhol
O espanhol também passou a ser uma língua mais presente no dia-a-dia dos
alunos depois que a professora Lidiane da Silva Pires, do Colégio Estadual da
Polícia Militar de Goiás (CEPMG) Ely da Silva Braz, em Luziânia, adotou a
história em quadrinhos na sala de aula. A docente, que é psicopedagoga e
especialista em ludopedagogia, decidiu usar os gibis na turma do 6º ano do
Ensino Fundamental na hora de ensinar a difícil gramática espanhola aos
pequenos.
“Os alunos do 6º ano são menores, e o espanhol é uma língua mais difícil
para eles, então deve ser trabalhado de modo lúdico, porque assim os estudantes
conseguem assimilar e aprender, sem ficar cansativo para eles”, explica a
professora.
Durante o exercício feito em sala de aula, os alunos tiveram contato com
gibis nacionais e da língua espanhola. Na sequência, foram estimulados a
desenhar seus próprios quadrinhos. Quem teve dificuldade com a arte, recortou
os já existentes e então todos construíram suas próprias histórias em espanhol.
“Os personagens são os mesmos das histórias em quadrinhos famosas, mas
eles criaram suas próprias histórias, com a criatividade deles. Foram seis
aulas para concluir os trabalhos e cada um apresentou o seu e leu em espanhol”,
conta Lidiane, orgulhosa de seus alunos que, segundo ela, não tem mais dificuldade
com o espanhol e já leem textos da língua com facilidade.
A atividade foi apoiada pelo diretor do CEPMG Ely da Silva Braz, capitão
José Wilton Fernandes de Lira. Ele conta que os alunos aprenderam a gostar do
espanhol com o uso dos gibis em sala de aula. “Eles desenvolveram o gosto por
essa nova língua através de algo que eles já gostam, que é a história em
quadrinhos. Essa parte lúdica é um atrativo para o estudante se interessar.”
Estímulo ao diálogo
A Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc) apóia e estimula esse
recurso didático nas salas de aula. Segundo a superintendente do Ensino
Fundamental, Gisele Faria, as histórias em quadrinhas são um tipo de literatura
lúdica muito presente na vida de todos, o que ajuda o professor a se aproximar
da realidade dos estudantes, e facilita o diálogo e a interação. “A história em
quadrinhos fez parte da vida dos nossos pais e avós. É um recurso literário que
vem de gerações, rico em linguagem, em recursos linguísticos e imagens. O
professor tem mais facilidade em ensinar por meio desses recursos, pois o
diálogo com a turma fica mais interativo.”
Gisele ainda acrescenta que esse tipo de metodologia aumenta o interesse
do aluno pela disciplina e também estimula a criatividade, além de despertar
talentos. “É um meio de se expressar por meio da arte. Hoje em dia os alunos
são tão podados de se expressar, e poder fazer isso em sala de aula é
fantástico”.
Espaços gratuitos
O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult),
mantém a única biblioteca de gibis do Estado no Centro de Goiânia. Localizada
na Praça Cívica, no Centro Cultural Marietta Telles, a Biblioteca Jorge Braga
possui um acervo de seis mil gibis e oito mil livros que estão à disposição
para empréstimo gratuito. O horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira,
das 8 às 17 horas.
Até o final de junho, outro espaço com gibis em seu acervo será inaugurado no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). Com 4,6 mil exemplares, a biblioteca infantil tem um acervo formado de livros de renomadas editoras nacionais e internacionais de literatura infanto-juvenil informativa, cordel, poesia e ainda história em quadrinhos. Funcionará no 1º piso do prédio principal, e ficará aberta ao público de terça a sexta, das 8h às 18h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h. A entrada é gratuita.