Acesso à terra e proteção aos povos indígenas foram lutas da figura simbólica

A cineasta Dagmar Talga tem uma longa trajetória com os povos do Cerrado. Seu novo documentário, “O Voo da Primavera”, narra o trabalho social de Dom Thomás Balduíno, bispo e teólogo goiano envolvido com os povos tradicionais e suas lutas pela terra e por território em Goiás. O filme foi lançado na antiga capital do estado na noite desta sexta-feira (8) como parte da programação do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – Fica 2018.

O movimento a favor da democratização da terra se mistura com a história de Dom Thomás, líder religioso que dedicou sua vida ao amparo a camponeses, indígenas e quilombolas em Goiás. O filme narra sua trajetória como bispo na Cidade de Goiás entre a década de 1960 e o final do século XX. Com o apoio de um grupo de bispos partidários do movimento da Teologia da Libertação, os trabalhadores rurais e indígenas marginalizados pelos grandes latifundiários encontraram na Igreja Católica um ponto de resistência em defesa de seus direitos. Dom Balduíno é um dos grandes defensores destes povos e intervém em seu favor em embates contra a própria Igreja Católica, o regime militar e os grandes proprietários de terra.

Para além da trajetória de Dom Balduíno, o documentário narra os ataques violentos do governo contra as populações tradicionais e seus defensores. O filme expõe a atuação criminosa e sangrenta do regime contra as causas honestas de um povo que não tem nada se não a sua terra e sua cultura. A memória deste período resgata questões que continuam atuais não só para o estado de Goiás como para todo o Brasil.

A cineasta e professora acredita que o lançamento da obra no Fica é uma maneira de homenagear o legado de Dom Thomás no estado que foi palco de suas ações contra a repressão da ditadura e dos poderosos. Seus esforços pela construção de uma Igreja Alternativa eram também parte de um movimento político de fortalecimento das minorias. Nas palavras do poeta Pedro Tierra, Dom Thomás era um bispo do sertão e no sertão há um povo que não se rende nunca. Para o jornalista André Trigueiro, consultor ambiental do Fica, a obra é um resgate importante para a história de Goiás e para as novas gerações porque mostra como o exercício da fé pode ser revolucionário contra o poder da bala e da opressão.