Fica 2018 -Segundo encontro com realizadores discute poéticas e políticas no cinema ambiental
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O diálogo é a proposta do Encontro com Realizadores – roda de conversa e coletiva de imprensa, evento que acontece diariamente, de quinta à domingo, no Cora Café, Jardim da Casa de Cora Coralina, durante o no Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica 2018). No encontro desta sexta-feira, 8/6, os convidados Silvana Beline, diretora de Diriti de Bdé Buté; Aline Portugal, diretora de Aracati; Ana Andrade, produtora do filme Frequências e Rafael Amorim, diretor de Nanã falaram das particularidades de sua obra.
O evento reúne diretores e produtores das obras da Mostra Competitiva com o público interessado em conversar com os realizadores sobre suas obras. Além de possibilitar que o público sane possíveis dúvidas, o encontro permite que o público entenda mais à fundo as problemáticas abordadas nas obras e as questões que envolveram a produção dos filmes. O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e mediador do encontro, Daniel Christino, destacou a importância do encontro para a troca de conhecimento entre produtores e público.
Estabelecendo uma relação entre a poética e política na produção cinematográfica com temática ambiental, os debatedores mostraram que possível que uma mesma obra seja transmissora de afeto e denúncia. Tratando da temática indígena, da relação de populações sertanejas com a produção de energia eólica e da relação das pessoas com as grandes cidades, os filmes exibidos na quinta-feira, 7/6, e discutidos nessa manhã, expõe diferentes problemáticas ambientais e os conflitos que emergem desses cenários.
Silvana Beline é uma estreante no cinema e conta que a obra Diriti de Bdé Buté é o resultado de um trabalho etnobiográfico realizado para uma disciplina. A diretora explica que foi atraída para a temática indígena após uma visita a um museu em São Paulo, onde pôde visitar uma exposição sobre as Bonecas Karajás. Impressionada, ela partiu para aldeia, onde foi surpreendida com a complexidade das relações que envolvem a produção da arte que é, desde 2012, Patrimônio Cultural Brasileiro.
A diretora conta que a primeira intenção era apenas registrar a produção da boneca, mas que o filme acabou indo além. “Quando chegamos lá, percebemos a relação da senhora com as crianças e com a aldeia, numa necessidade de transmissão da cultura, que pra ela existem muitas dificuldades” explica.
No documentário goiano, a renovação das tradições, a ameaça às línguas indígenas, as dicotomias de uma aldeia urbana e as relações de gênero intra e extra tribo, que envolvem a produção do artesanato indígena, permeiam a discussão do filme, que concorre também na Mostra ABD.
Uma produção do Rio de Janeiro e do Ceará, o documentário Aracati, de Aline Portugal e Julia de Simone, traz para o festival a problemática da relação da população sertaneja do Ceará com as usinas de energia eólica instaladas no Sertão do Cariri. Segundo a diretora Aline Portugal, as gigantescas turbinas eólicas tornam-se elementos de retrato, que exprimem uma língua das coisas.
O vento Aracati, que viaja 400 quilômetros para soprar as folhas, hélices e cabelos do Sertão, se torna um personagem do filme e um ente próximo dos moradores, que esperam na calçada por sua visita com hora marcada. As inconstâncias do vento, que se tornaram mais comuns com as mudanças climáticas, são uma metáfora das relações humanas conturbadas proporcionadas pelas mudanças ambientais na região. Para Aline, espaços como o proporcionado pelo Encontro com Realizadores, no Fica, são fundamentais para integrar às pessoas, criar uma cultura do debate e conversa sobre os filmes. “Eu acho muito rico, porque os filmes não se encerram neles mesmos” afirmou a diretora.
Cinema pernambucano
Nas sessões da Mostra dessa quinta-feira, 7/6, foram exibidos dois filmes pernambucanos, Frequências, de Adalberto Oliveira e Nanã, de Rafael Amorim. A produção cinematográfica de Pernambuco se destaca nessa edição do Fica, tendo também 2 filmes da Mostra Fica 20 anos A força de um legado, Recife de dentro pra fora, de Kátia Mesel, que também faz parte do Juri de Premiação da Mostra ABD, e o filme Recife Frio de Kleber Mendonça filho. As obras foram premiadas nos Festivais de 1999 e 2010, respectivamente.
A produtora de Frequências, Ana Andrade, comemorou a presença de Kátia Mesel no Festival “é muito bom encontrar ela aqui. Ela primeira cineasta de Pernambuco com 50 anos de carreira” conta. Ana explica que Frequências é o segundo de uma trilogia do diretor Adalberto Oliveira, o primeiro foi o filme Dique de 2012. O filme trata do crescimento da cidade de Olinda pela perspectiva de um Farol. Tendo o Farol como objeto observador, o filme mostra a realidade da cidade consumida pelos turistas, que tem o 3° maior quilombo urbano do Brasil. A produtora afirma que o filme traz em sua problemática a cidade que não é acessada pela população, que através da luz do farol consegue observar a cidade. Trabalhando a ideia de uma tomada de consciência pela imagem, a trilogia trará como sequencia o filme Reverbera, que mostrará a cidade na perspectiva do homem.
Nanã, de Rafael Amorim, carrega em seu nome a relação do povo pernambucano com sua terra e com a cultura afro. A deusa Nanã, grande mãe da vida e da morte, exprime a luta na perspectiva de dois mundos, possibilitando uma nova consciência, que pode entendida sob o égide das relações intergeracionais de resistência.
O filme tem como foco os moradores da região de Suape, em Recife, afetados pela implantação do o Complexo Industrial Portuário de Suape. Retratando a interação entre indivíduos expulsos de seu lugar de origem com a instituição pública que gere o porto, o filme tem o mangue figura central, também afetada pelo desenvolvimento industrial da região. “O filme mostra como a interação humana imprime resultados, mexendo nas pessoas e ambientes” afirma Rafael.
O Encontro com Realizadores continua sábado, 9/6, e domingo 10/6, sempre discutindo junto aos diretores e produtores os filmes exibidos na Mostra Competitiva do dia anterior.
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