Fica 2018 - Realizadores discutem novas formas de abordar problemas socioambientais no cinema
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Reportagem: Manuela Costa / Fotos: Silvio Quirino
Os afetos foram tema do primeiro Encontro com Realizadores da 20ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental - Fica 2018. O tom de denúncia, tradicional em filmes que abordam a temática socioambiental, perde lugar para a linguagem afetiva em produções como O Malabarista, animação goiana, e o mexicano Octobre Otra Vez. As duas obras fizeram parte da programação da Mostra Competitiva do Fica nesta quarta-feira (6).
O Malabarista é assinado por Wesley Rodrigues, animador goiano que será homenageado na próxima edição do Anima Mundi, o maior festival de animação da América Latina. O diretor e roteirista do filme, Iuri Moreno, conta sobre a opção de discutir a poluição urbana a partir do colorido da arte de rua. Foram mais de dez horas de gravação com artistas em Goiânia (GO) e cerca de 3 meses produzindo o filme. Iuri é apaixonado pela arte circense e tinha a ideia de realizar uma obra sobre os artistas de rua desde a época da faculdade de Audiovisual, há oito anos. A escolha pelo formato de animação veio depois e acabou dando novos significados ao filme. O gênero está em crescimento no Brasil e já ganha destaque internacional com filmes como O Menino e o Mundo, integrante da Mostra de 20 anos do Fica. Desde 2015, o país mais do que dobrou seu lançamento de obras animadas de acordo com dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Moreno espera que sua produção possa contribuir para que o público tenha um olhar mais brando para a arte no cotidiano, sobretudo em um momento tão cinza para o país.
A mexicana Sofía Auza também adota um tom mais acolhedor em seu filme, um pequeno romance que discute a alimentação sustentável. A diretora acredita que a atmosfera romântica prepara o terreno para que o público crie uma conexão com o problema abordado. Para Auza, são os indivíduos que podem fazer a diferença para a segurança alimentar no mundo. Mudanças simples de hábitos contribuem para a diminuição dos resíduos orgânicos e o desperdício de comida. Sobre a escolha de abordagem, Sofía defende que as relações interpessoais são indispensáveis para a discussão de problemas ambientais. É na criação de redes emotivas que o ser humano se torna sensível à mudança. A cor também tem um papel significativo em seu curta, contrastando com a tradição mexicana de obras mais sombrias e dando leveza ao tema.
A presença das mulheres no cinema mundial também foi tema de discussão. No Brasil, as mulheres não assinam nem 20% da direção dos filmes, segundo a Ancine. Auza acredita que o cenário não é muito melhor para as realizadoras no México e atenta para a necessidade de políticas públicas que estimulem a presença feminina na indústria. A diretora agradeceu ao Fica pelo apoio em romper essas barreiras. Só na Mostra Competitiva, são 11 mulheres encabeçando a direção dos filmes selecionados, número pouco menor que aquele de homens (13).
O Encontro com Realizadores acontece todas as manhãs até o encerramento do Festival, no domingo (10), para promover um intercâmbio entre o público e os cineastas que tiveram obras selecionadas para o Fica. Os participantes do festival podem tirar dúvidas e iniciar debates com os realizadores dos filmes exibidos no dia anterior, às 9h no Jardim da Cora Coralina. A entrada é pelos fundos da Casa de Cora.
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