A 16ª edição da Mostra ABD Cine Goiás, realizada pela seção goiana da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD-GO) dentro da programação do Fica 2018, começou na noite desta quarta-feira (6) no Cineteatro São Joaquim. A curadoria deste ano selecionou documentários, obras experimentais e filmes narrativos divididos em três sessões temáticas que abordam a geografia humana, a desconstrução do modelo formal de fazer cinema e o cotidiano no meio rural e nas cidades. Esta é a mostra mais longa da ABD desde sua criação, 16 anos atrás.

Os realizadores das obras exibidas nesta primeira rodada subiram ao palco sob aplausos da casa cheia. Michely Ascari, realizadora de Alô, Maman, celebrou a oportunidade de estreiar seu primeiro filme como diretora no palco da Mostra ABD. Silvana Beline rendeu suas homenagens à protagonista de seu documentário, a ceramista Diriti de Bdé Burè, que dedicou sua vida à feitura das bonecas Karajá. O filme também foi selecionado para a Mostra Competitiva 2018. Julio César Mahr, diretor da ficção Seu Jaime, lembrou que a trajetória dos cineastas goianos desta sessão da mostra é bastante parecida. Segundo o diretor, a riqueza da programação deste ano é a prova de que a educação em Cinema no estado de Goiás está rendendo bons frutos. A Viagém de Ícaro é a estreia de Kaco Olimpio no Festival. Seu filme é centrado na figura de Bazuka, um homem que tem um sonho impossível.

A sessão de abertura da Mostra, Humano-Paisagem, explora a relação entre as pessoas e os espaços que habitam. O documentário Diriti de Bdé Burè foi o escolhido para iniciar a exibição. O filme traça um caminho pelos rios e vegetação, percorrendo a história de Diriti. Os fragmentos da vida da ceramista ajudam a narrar a cultura de um povo e sua sobrevivência ao passar das gerações. Em volta da senhora, as crianças manipulam o barro retirado da encosta dos rios e recebem o conhecimento ancestral. Já a ficção Alô, Maman retrata a união de dois lugares diferentes por meio das experiências de um imigrante haitiano em Goiânia (GO). Afastado da família, o vendedor ambulante luta para trazer sua filha para o Brasil enquanto se habitua a novos costumes. O celular é a ponte entre as duas realidades. Os rituais de beleza das mulheres em uma sociedade normatizada pelos homens é tema de Kris Bronze, filme que explora o culto ao corpo para pensar o desejo e o prazer femininos. O curta abusa de jargões goianos e leva o público à risada com as conversas das mulheres pegando Sol no centro de bronzeamento natural. A trama gira em torno dos preparativos para o 2º Encontro só para Mulheres.

O contraste entre o viver urbano e a rotina rural encerra o primeiro dia de programação da Mostra ABD Cine Goiás. Os filmes A Viagem de Ícaro e Seu Jaime exploram o território fantástico na vida de dois personagens que vivem em universos diferentes. O primeiro, um catador de materiais recicláceis, sonha em voar. Sua obsessão com o céu e os aviões de brinquedo que constrói remetem à simplicidade do sonhar. O segundo, um senhor que mora no inteior de Goiás, acompanha o curso natural da vida em um ritmo diferente daquele das cidades. Até que um incidente com o aparelho de TV desvirtua sua rotina.

A curadora da mostra, Lila Foster, doutora em Audiovisual pela Universidade de São Paulo (USP), chama a atenção para a variedade de propostas estéticas na produção contemporânea do cinema goiano. Na Mostra ABD, o público do Fica entra em contato com obras ricas e contrastantes da produção no estado. Cada sessão é pensada para instigar a reflexão sobre os formatos, gêneros e suas possibilidades narrativas. Em sua 20ª edição, o Fica continua estimulando o crescimento do cinema goiano, parte importante de seu legado para Goiás, o Brasil e o cinema internacional.