Fica 2018 - Competitiva traz relação entre entre meio ambiente e condição humana

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A impermanência foi tema da segunda sessão da Mostra Competitiva da edição de 20 anos do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – Fica 2018, exibida nesta quinta-feira (7) no Cineteatro São Joaquim. A casa estava lotada e recebeu filmes de Pernambuco, Ceará, Goiás e Itália na tarde e começo da noite de quinta. As obras selecionadas para o 3º dia de Fica abordam a fragilidade do ser humano e do meio ambiente. Contra a ideia de progresso, os filmes iniciam uma discussão sobre o modo que vivemos e as condições às quais nos habituamos, às vezes por necessidade, às vezes por falta de escolha.

A transformação da paisagem em Recife (PE) é tema de muitas produções audiovisuais pernambucanas. Enquanto as grandes corporações falam em desenvolvimento e progresso, o meio ambiente recua e a população mais simples perde seu espaço. O curta ficcional de Rafael Amorim percorre mangues e reuniões sussurradas para mostrar o impacto desses empreendimentos na vida da cidade. O filme narra os abusos do interesse privado entremeados por um mosaico de sons fantásticos e imagens poderosas da natureza, frágil diante do poder dos homens.

A vulnerabilidade também é tema de Sensible, longa italiano de Alessandro Quasretti. Substâncias tóxicas e metais pesados contaminam o ar que respiramos, a água que bebemos e os alimentos e medicamentos que consumimos. A radiação dos aparelhos elétricos e de telecomunicações vibram no ar ao nosso redor. Sensible discute como os avanços tecnológicos e industriais causam as chamadas doenças ambientais, condições que tornam algumas pessoas mais sensíveis à ação nociva de químicos e frequências eletromagnéticas. A Sensibilidade Química Múltipla (MCS) e a Hipersensibilidade Eletromagnética (EHS) afetam a vida de cerca de 1% da população italiana. Estas pessoas sentem na pele as agressões sofridas pelos biomas naturais todos os dias ao redor do mundo.

O documentário Diriti de Bdé Buré, também em exibição na 16ª edição da Mostra ABD Cine Goiás, narra a vida de uma ceremista de bonecas Karajá. O curta goiano de Silvana Beline assume um tom confessional ao dar voz à Diriti, indígena que não fala Português e orienta suas descendentes no fazer artesanal das figuras de barro. A senhora vê sua sobrevivência na netinha e reflete sobre os tempos de antigamente. A linguagem do filme, que percorre os caminhos da natureza para contar a história de um povo, é semelhante àquela de Aracati, co-produção entre Ceará e Rio de Janeiro. O documentário é das diretoras Aline Portugal e Julia De Simone. O vento é protagonista e permeia o filme desde o litoral cearense, onde move as hélices gigantescas de uma turbina eólica, até o interior do estado, moldando a relação do ser humano com o espaço no caminho.

Frequências é o segundo filme de uma trilogia sobre a cidade de Olinda (PE) do diretor olindense Adalberto Olivera. O filme é sensorial e acompanha a vida dos trabalhadores do entorno do Farol, cartão-postal da cidade. Os sons hipnotizantes ajudam a narrar uma disputa entre urbanidade e natureza, entre trabalhar e existir, embates em constante evolução nas redondezas do monumento. Oliveira e Amorim abordam temas muito semelhantes, mas trazem para o público do Fica estéticas totalmente diferentes do cinema pernambucano. Nesta edição, o Fica recebe filmes de diversos estados brasileiros e contribui para a descentralização dos espaços de exibição no país.