Seduce apoia evento que promove etnosaberes na região da Chapada dos Veadeiros

Detalhes

A Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás - Seduce apoiou e participou, por meio do Instituto de Pesquisa, Ensino e Extensão em Arte Educação e Tecnologias Sustentáveis (Ipeartes), do Raízes: 3º Grande Encontro de Raizeir@s, Parteiras, Benzedeiras e Pajés na Chapada dos Veadeiros. O evento, que ocorreu no município de Alto Paraíso de Goiás, entre os dias 24 e 27 de maio, reuniu cerca de 80 mestres e mestras da cultura tradicional, incluindo representantes de populações indígenas e quilombolas.

A iniciativa busca difundir e salvaguardar o patrimônio imaterial a partir dos saberes reunidos em torno do evento. Também visa fomentar estudos e políticas públicas de saúde, sobretudo no ramo da Fitoterapia, e contribuir para a preservação do bioma Cerrado, por meio de atividades vinculadas à pesquisa em etnobotânica e à educação ambiental.

Coordenadora do Ipeartes, a professora Luz Marina de Alcântara destaca que a consolidação do Programa de Educação do Bem Viver e a constituição de Cidades Educadoras na região da Chapada dos Veadeiros estão entre os focos de atuação da entidade. "Ao apoiar o Raízes, a Seduce confirma a legitimidade do conhecimento que é criado na comunidade. É isso que a gente entende como Educação do Bem Viver", diz. Segundo ela, o projeto valoriza os diversos espaços de aprendizagem e seus educadores e busca fortalecer e dar autonomia aos saberes locais,  para além de educação meramente escolarizada.

Durante o evento, a equipe de educomunicação do Ipeartes reuniu materiais para projetos educativos relacionados à divulgação e promoção da diversidade de saberes sobre plantas medicinais e outras curas naturais na região.  Professores e estudantes também fizeram o registro do evento, a acolhida dos convidados, e prestaram apoio logístico para as atividades da programação.

O Raízes

O Raízes é organizado pela Três Luas, produtora cultural local especializada na promoção de eventos e atividades relacionados ao ramo da etnobotânica. Além do Ipeartes - Seduce, o evento contou com a parceria da Universidade de Brasília, por meio do Centro de Estudos do Cerrado da Chapada dos Veadeiros (UnB Cerrado).

Mesmo diante das dificuldades geradas pela crise de desabastecimento de combustível (resultante da greve nacional dos caminhoneiros), a audiência do 3º Raízes não foi prejudicada. Um público de mais de duas mil pessoas marcou presença no evento ao longo dos quatro dias de realização das atividades.

Integrante da Três Luas e principal idealizadora do evento, Daniela Ribeiro destaca o potencial educativo do trabalho na área ambiental e sua conexão direta com os anseios por uma vida saudável. “O remédio do mato tem o equilíbrio da natureza", diz explicando que o Cerrado vale mais em pé do que deitado, pois é uma farmácia completa, com todas as medicinas. "O que a gente trabalha nesses encontros é a fitoterapia popular tradicional, a medicina caseira, saberes ancestrais de cura".

Segundo ela, a parceria com a Seduce é muito importante porque esses conhecimentos passados por tradição oral correm o risco de serem perdidos pela falta de interesse das novas gerações em dar continuidade à sabedoria legada por seus pais e avós. "A educação é fundamental para devolver aos jovens o interesse por essas formas de aprendizagem", comenta agradecida pela mobilização voluntária dos organizadores e pelas doações que possibilitaram a realização do evento.

Durante o 3º Raízes foram realizadas 22 oficinas de remédios caseiros, seis rodas de conversa, duas saídas de campo para identificação de plantas medicinais, além de benzimentos, rodas de cura com Pajés, exibições de documentários, feira de produtos artesanais, apresentações culturais, dentre outras. A abertura e o encerramento ocorreram em Alto Paraíso de Goiás e as demais atividades foram distribuídas entre a Vila de São Jorge, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e Fazenda Volta da Serra.

Etnosaberes

De acordo com Luz Marina o etnosaber é um conceito que incorpora toda forma de sabedoria ancestral, guardada por comunidades tradicionais, notadamente indígenas e afro-brasileiras, e que são, via de regra, repassadas ao longo das gerações através da oralidade. A lei nº 11.645, de 10 março de 2008, torna obrigatória a inserção desses conteúdos nos currículos da educação básica nacional.

Para contribuir com a promoção desses saberes, um grande inventário botânico começou a ser realizado nas saídas de campo do 3º Raízes. A iniciativa foi encabeçada pela professora da Unb Cerrado, Renata Corrêa Martins, e contou com a parceria de professores e pesquisadores do Ipeartes, além dos próprios raizeiros, que foram os mestres condutores dos processos de identificação de plantas e raízes medicinais ao longo das duas trilhas guiadas.  As caminhadas pedagógicas foram realizadas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, na manhã do dia 25, e na Fazenda Volta da Serra, no dia 26.

Segundo Renata, o objetivo do trabalho é reunir o conhecimento coletado junto aos raizeiros em uma publicação impressa. "Esse registro é importante para levantar a autoestima dos raizeiros, que são povos que tiveram suas culturas negligenciadas e desrespeitadas. Também é fundamental para o conhecimento das espécies citadas com importância de uso e para a proteção dessa biodiversidade ameaçada com a expansão da monocultura, da pecuária e da ocupação humana. São raízes, cascas, flores, todas muito importantes para esses povos que vivem da natureza já há muito tempo", relata.

Há espécies botânicas como as palmeiras, por exemplo, que estiveram atreladas à sobrevivência dos Kalunga, que viveram isolados por quase 200 anos. Para a professora da UnB, sistematizar esse conhecimento e dar um nome científico ao que eles conhecem, é importante. "A ciência precisa prestar esse serviço, aprender a dialogar com humildade e reconhecer a sabedoria desses mestres que vivem aqui. A urbanização acelerou a destruição e a desconexão do ser humano com a natureza. Precisamos retornar, voltar a ouvir essas pessoas, fazer expedições de escuta", pondera Renata.

Raizeiro e artesão do município de Teresina de Goiás, Josué Faustino de Souza, o Seu Josué, conta sobre o seu encantamento pela vida em contato com a natureza, exaltando a biodiversidade do Cerrado e destacando sua paixão especial pelo Buriti, espécie de palmeira nativa, símbolo do 3º Raízes: "Eu fui nascido e criado na natureza e sou feliz por morar num lugar onde muitos ainda preservam o Cerrado, embora alguns queiram ter lucros exorbitantes em detrimento da vida, acabando com a biodiversidade, principalmente o Buriti. O Buriti para mim é como uma pessoa, porque ele complementa a vida humana, pois muitos dele dependem e nas veredas é o mais imponente. Eu tive uma ideia que quero passar para todos os admiradores da medicina natural: temos que criar uma cadeia nacional de medicina alternativa natural, que seja uma instituição em benefício da saúde e da natureza", argumenta.

Na área da saúde, os conhecimentos compartilhados ao longo do 3º Raízes são fontes de estudo para a produção de remédios fitoterápicos e outros 28 procedimentos terapêuticos inseridos na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). As 29 modalidades atualmente reconhecidas pela Ministério da Saúde, já se encontram consolidadas nos atendimentos ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo dados recentemente divulgados pelo Departamento de Atenção Básica do referido órgão ministerial, em 2017, foram realizados, no Brasil, 1,4 milhão de atendimentos individuais referentes à oferta de modalidades integrativas na saúde pública. Os serviços estiveram presentes em 9.350 estabelecimentos espalhados em 3.173 municípios do país.

Ipeartes

O Ipeartes é uma entidade criada pela Seduce para dar suporte ao Projeto "Alto Paraíso: Território do Bem Viver". A iniciativa foi instituída por meio do decreto 8.824/2016, promulgado pelo Governo de Goiás. Trata-se de norma que estabelece Acordo de Cooperação Técnica para a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU. A parceria conta com assinatura da Prefeitura de Alto Paraíso e da Associação Awaken Love.

O Instituto surgiu como piloto da educação estadual nessa perspectiva e se consolida a partir de uma visão holística do desenvolvimento humano, baseada no ODS #4 da ONU, que tem como objetivo geral “assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”. Para alcançar tal propósito, foi criada a “Plataforma de Educação do Bem Viver”, que envolve um conjunto de ações comprometidas com os Projetos de Escola Inovadora e Cidade Educadora.

A bandeira da Educação Integral é a força motriz do Ipeartes, uma vez em que este se preocupa com a garantia de uma formação integrada aos diversos níveis de realidade e percepção existentes. Explora, nesse sentido, não apenas as dimensões cognitivas e intelectuais dos processos de ensino-aprendizagem, mas também seus aspectos afetivos, estéticos, éticos, físicos, emocionais, espirituais, ambientais, culturais e sociais, guardando, assim, relações diretas com a proposta do evento em questão. Para tanto, adota ainda como princípios a Arte Educação, a Cultura de Paz, a Educação em Direitos Humanos para a Diversidade e a Sustentabilidade e busca trabalhar, em todos os seus projetos, a Responsabilidade, o Respeito, a Presença, a Humildade e a Empatia.

A busca pela inovação de conteúdos e formatos é uma constante do trabalho do Ipeartes e suas ações visam atender as demandas apresentadas pelas comunidades, respeitando suas especificidades. Desenvolve atualmente atividades voltadas ao ensino formal (da Educação infantil à Educação de Jovens e Adultos) e não formal, estando presente em diferentes instituições escolares da Área de Proteção Ambiental Pouso Alto, que inclui as cidades de Alto Paraíso, Cavalcante, Colinas do Sul, Nova Roma, Teresina de Goiás e São João da Aliança.

Em Alto Paraíso, além da área urbana, atua também nas comunidades da Vila de São Jorge, Moinho, Sertão e Cidade da Fraternidade, a maior parte delas localizada na zona rural.

Na educação não formal, o destaque vai para ações como o Coletivo Jovem, a Olimpíada de Humanidades, além de projetos e cursos livres realizados na sede do próprio instituto em Alto Paraíso, bem como outras efetuadas em parceria com o Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e o Centro de Convivência da Criança e do Adolescente (CCCA).

A professora Luz Marina Alcântara foi escolhida para representar a educação estadual no âmbito do projeto "Alto Paraíso: Território do Bem Viver", criado pela ex-secretária Raquel Teixeira. Atualmente o titular da pasta é o professor Marcos das Neves.

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