Em reportagem especial, o Popular diz que Escolas Padrão Século 21 são modelo na qualidade do ensino no País

Detalhes

Reportagem especial, publicada neste domingo, 18/2, no jornal O Popular, destaca as Escolas Padrão Século 21 como modelo na qualidade do ensino no País. Desde o início do ano, o governador de Goiás, Marconi Perillo, o vice-governador José Eliton, e a secretária de Educação, Cultura e Esporte de Goiás, Raquel Teixeira, dão continuidade ao rush de inaugurações de escola Padrão Século 21. Já foram cinco unidades em 2018 e, até o final de março, serão 26. Até o final do ano serão 50 inaugurações, e ainda há 17 unidades em processo de licitação.

A reportagem destaca que Raquel Teixeira ao estrear na secretaria, em 1999, sob o comando de Marconi Perillo, já desejava substituir as arcaicas estruturas públicas espalhadas por Goiás. E foi com o retorno da arquiteta Emilze de Carvalho, que viveu em Reggio Emilia, na Itália, que a Educação de Goiás obteve os subsídios para implantar o projeto da Escola Padrão Século 21, criado por Emilze. "Sempre sonhei com uma escola que fosse inspiração para as pessoas. Ela deveria refletir a dinâmica da sala de aula: acolhedora, comunitária e democrática", disse Raquel Teixeira na entrevista ao O Popular.

A edição do Popular deste domingo traz ainda no Editorial, o bom momento da educação no Estado, resultado dos investimentos e da valorização da categoria pelo governador Marconi Perillo e o vice-governador Zé Eliton. O texto aborda as Escolas Padrão Século 21 como opção capaz de alargar as possibilidades de formação, levando em conta características e necessidades regionais.

 

Confira a reportagem na íntegra: 

Quando estreou à frente da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce), entre 1999 e 2001, Raquel Teixeira imaginava como substituir as arcaicas estruturas públicas espalhadas por Goiás. Na época, acabava de retornar a Goiânia a arquiteta Emilze de Carvalho, formada pela Pontifícia Universidade Católica

de Goiás (PUC-GO) e pelo Politécnico de Milão. Durante dez anos, Emilze viveu na Itália, mais especificamente em Reggio Emilia, cidade que o mundo passou a aplaudir pela sua experiência pedagógica. A vivência reggiana deu à arquiteta os subsídios para criar o projeto da Escola Padrão Século 21, implantado em diversos municípios e adotado em nível nacional pelo Ministério da Educação (MEC).

Entre as 1158 escolas da rede pública estadual de ensino, 29 são modelo Padrão Século 21 e outras 50 serão inauguradas este ano. Entre terça e quinta-feira quatro novas unidades serão entregues nas cidades de Planaltina, Formosa e Cristalina, beneficiando mais de 3,3 mil alunos. "Essas escolas vão mudar completamente o

cenário da Educação do Entorno do Distrito Federal", aposta Raquel Teixeira. "É outra realidade. A maioria das escolas estaduais é de placa e o calor é insuportável. Aqui o professor tem oportunidade de sair da sala de aula com os alunos que vivenciam diferentes ambientes. O rendimento melhorou", diz Cleudes Custódio, coordenadora pedagógica do Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Francisco Maria Dantas, no bairro Mansões Paraíso, em Goiânia.

Investimentos

Coordenadora de estudos e acompanhamento de obras da Seduce, a pedagoga Noemi de Vasconcelos explica que em 2012 foi pactuado com o governo federal a construção de 39 escolas de Padrão Século 21 e no ano seguinte foi disponibilizado 20% do valor, ocasião em que foram licitadas 32 obras. Dezoito dessas escolas serão entregues à população até abril, cinco anos após licitadas. Para ela, a área de convivência previsto no modelo é eficiente para as atividades pedagógicas das escolas de tempo integral alicerçadas no projeto Ser Pleno, idealizado por RaquelTeixeira quando era diretora do Instituto Jaime Câmara.

Diretora do Cepi Genesco Ferreira Bretas, no Recanto do Bosque, região Norte da capital, Elândia Martins de Moura concorda. Sua unidade alcançou no ano passado 5.6, a maior nota de Goiânia no Ideb entre as escolas de tempo integral. "Antes de vir para cá fui diretora numa escola da Vila Abajá, de placa e depois alvenaria, mas as crianças sofriam muito com o calor. O salto é magnânimo. Por mais que as pessoas queiram separar ambiente de proposta pedagógica, não tem como. Aqui temos salas arejadas, espaço e protagonismo juvenil". "A experiência de Reggio Emilia foi importantíssima na minha vida e mais ainda por ter a oportunidade de trazer para Goiás. Sempre ouço do MEC que ninguém reclama da escola. É um projeto enxuto e eficiente. Ele não tem a pretensão de ser um edifício

imponente, mas com a dimensão pública e conservando o acolhimento necessário às crianças de maneira a não dividir", assinala Emilze de Carvalho.

Estudo baseado no construtivismo social

Arquiteta concursada da Seduce, Emilze acompanha a implantação e evolução do projeto que criou. Ela lembra que quando Raquel Teixeira solicitou o projeto havia um programa mínimo do que uma escola inovadora deveria ter. "Pensamos num edifício de qualidade, com muito concreto aparente e tijolo à vista, um projeto para durar mais de 50 anos". A arquiteta explica que para elaborar o modelo fez um estudo baseado no construtivismo social, legado que trouxe da Itália, a partir da experiência que teve em Reggio Emilia. Seus dois filhos estudaram numa escola da municipalidade e, como todos os pais, participou das atividades educacionais. "O modelo de arquitetura da Escola Padrão Século 21 é baseado num projeto social de escola que promove a integração dos ambientes, dos alunos, dos professores, feito em torno de uma grande praça. A intenção foi fazer uma escola mais acolhedora". Emilze enfatiza que a arquitetura italiana é muito humana, se preocupa com o indivíduo e com o bem-estar das pessoas. "Na Itália você não separa as coisas. É uma mistura de técnica, arte e ciência ou projeto pedagógico. É um todo. Me identifico 100%. Certamente teve uma influência nesse projeto".

Em 2002 o projeto de Emilze e de outros 11 arquitetos brasileiros foram adotados pelo MEC para construção de 12 escolas de 12 salas de padrão inovador em várias partes do país pelo programa FundEscola em parceria com o Banco Mundial. Em Goiás, foi erguida a Escola Monteiro Lobato, no Jardim Tiradentes, em Aparecida de Goiânia. Dois anos depois as unidades passaram por uma avaliação e o projeto de Emilze foi o melhor qualificado. Desde então, sua criação integra o rol de projetos arquitetônicos do Plano de Ações Articuladas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) do MEC.

O projeto

O projeto Escola Padrão Século 21 chama a atenção pela ampla área de convivência, que estimula a interação entre alunos e professores. As construções ocupam áreas de quase 3 mil metros quadrados, estruturas que incluem administração, auditório, biblioteca, laboratórios, 12 salas, vestiário e pátio coberto. Desde seu surgimento o projeto passou por várias atualizações, como a inclusão de rampas acessíveis. Inicialmente ele não previa quadra esportiva, hoje conta com um miniginásio. Também a cozinha é entregue adequada às normas do Corpo de Bombeiros. O custo aproximado de cada unidade, que tem capacidade para atender até 1.600 alunos, é de R$ 4,2 milhões.

Comunidade e família na construção educacional

Cidade de 175 mil habitantes situada no norte da Itália, Reggio Emilia é uma inspiração para educadores do mundo todo. Com a localidade em escombros no pósguerra, a população se organizou para construir escolas e um projeto educativo que acolhesse seus filhos. A proposta teve à frente o educador e psicólogo Loris Malaguzzi, que investiu na educação das crianças a partir da venda de carros bélicos e cavalos deixados pelos alemães. Hoje, o conjunto de 33 centros educacionais de Reggio Emilia é conduzido pela municipalidade em parceria com a comunidade. Em 1991, a revista norte-americana Newsweek considerou a Escola Infantil Municipal Diana, de Reggio Emilia, a melhor instituição de Educação Infantil a nível mundial. Foi o que bastou para o mundo olhar com mais atenção para a cidade italiana.

Pesquisadores e professores estrangeiros se interessaram em conhecer e aprofundar suas pesquisas. O movimento foi tão intenso que visitas e pesquisas foram institucionalizadas através da Fondazione Reggio Children, empresa mista público-privada criada em 1994. Na cidade, o Centro Internacional Loris Malaguzzi traduz aos

visitantes a experiência pedagógica.

O regimento de Reggio Emilia está baseado em três vertentes: a educação é um direito; é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos; e é um bem comum. A construção pedagógica se baseia numa perspectiva sócio-construtivista em que o conhecimento se surge por meio da ação do sujeito. As

crianças aprendem pelas experiências vividas.

 

Prédio é bom, mas a valorização do profissional é melhor, diz sindicato “Essas escolas demoraram muito para serem inauguradas. O projeto é antigo, do início dos anos 2000 e veio do Governo Federal. Já naquela época Goiás vinha de um processo de mais de 25 anos sem construir escolas”, afirma Bia de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego). Ela concorda que é importante inaugurar escolas de Padrão Século 21, mas lamenta que “dentro de um prédio maravilhoso não tenha profissionais suficientes”. De acordo com Bia, Goiás conta hoje com um déficit de 8 mil professores na rede pública. “A Seduce está há nove anos sem fazer concurso”.

Para a presidente do Sintego, “o Estado fica preocupado com prédio, mas não em manter profissionais”. Bia de Lima enfatiza que há merendeiras hoje que são obrigadas a preparar o lanche de 300 alunos ou uma única faxineira fica responsável pela limpeza de 500 m2. “Já fizemos uma representação junto ao Ministério Público para tomar providência. Há 20 anos não tem concurso para merendeira. São mais de 20 mil contratos temporários na Educação”.

“Se a Escola Padrão Século 21 chega tarde, mais tarde ainda é a valorização dos trabalhadores da Educação que estão no subsolo das faixas salariais do Estado”, comenta Bia de Lima. Ela reforça que a ausência de concurso público não abre perspectiva atraente para a entrada na carreira. “Isso reflete na baixa procura pelos cursos de licenciatura”. A falta de interesse pelos cursos que podem formar professores é uma realidade nacional e foi mostrada em reportagem do POPULAR no dia 3 deste mês.

Oito perguntas para Raquel Teixeira, secretária estadual de Educação, Cultura e Esporte

1 – De onde surgiu a ideia da Escola Padrão Século 21?

A ideia era ter uma escola que tivesse um centro comunitário, uma área para socialização de alunos, professores e até para a comunidade. Sempre sonhei com uma escola que fosse inspiração para as pessoas. Ela deveria refletir a dinâmica da sala de aula: acolhedora, comunitária e democrática.

2 – O projeto é do início dos anos 2000 por que tem sido implantado de forma tão lenta?

Até 2017 havia 24 escolas nesse padrão. Em 2015 e 2016 o governo direcionou esforços para a gestão da crise fiscal, mantendo os serviços essenciais. Só em 2017, com o lançamento do programa Goiás na Frente, as obras foram retomadas. Até o final do ano serão inauguradas mais 50, sendo que 17 já estão em licitação para o início da

construção.

3 – O projeto arquitetônico tem um pé na experiência de Reggio Emília. Ela também está dentro da Escola Padrão Século 21?

O que está havendo em termos de mudança é a escola de tempo integral, que funciona mais como uma escola de vida, de protagonismo juvenil. E as Escolas Padrão Século 21 têm espaço ideal para o modelo que se pretende hoje. As turmas se movimentam, é dinâmica e o lado humano do professor é muito enriquecido.

4 – Não é apenas uma questão de arquitetura, então?

Não, é um novo enfoque de associar teoria e prática, que é tão moderno quanto a arquitetura da escola.

5 – Qual é sua expectativa em termos de resultado?

Somente o Entorno do Distrito Federal, onde as famílias são mais frágeis, terá 26 escolas neste modelo e isso vai mudar completamente o padrão da Educação. O resultado da Educação depende da infraestrutura, da qualidade do professor, e do material pedagógico. Estamos produzindo para a região o caderno do Aprender + desde a 5ª Série do Ensino Fundamental até o 3º Ano do Ensino Médio. É um apoio enorme para o professor.

6 – O Sintego reclama da ausência de valorização do professor, do trabalhador da Educação de uma forma geral. Qual sua opinião?

O Sintego reclama, e com razão, da falta de concurso. Mas, se você analisar bem isso ocorre no Brasil inteiro é em função da crise. Acredito que é uma situação transitória. O concurso de mil vagas, 900 delas para professores de Matemática, Química e Física,que já foi anunciado, é uma boa sinalização. Ele ainda não saiu porque estamos aguardando a Escola de Governo. Esse concurso vai atender, em sua grande maioria, as escolas do Entorno do Distrito Federal.

7 – Escolas foram fechadas para abrir as de novo padrão?

Isso não faz o menor sentido. Em Anápolis, por exemplo, tem quatro escolas no Centro que não têm demanda. Hoje a maior demanda é nas proximidades do Daia. O que está acontecendo é uma otimização de espaços. É uma mobilidade que acompanha a mobilidade da população. E a Educação tem que acompanhar isso.

8 – Há críticas também sobre a transferência de Escolas Padrão Século 21 para alguns municípios enquanto alunos da rede estadual continuam em escolas de placas. Isso vem ocorrendo?

Percebemos que em alguns municípios, como Paraúna, Itapuranga e Aruanã, a demanda é maior para o ensino infantil que é de responsabilidade da prefeitura. Então estamos repassamos essas escolas para a gestão municipal, mas são casos excepcionais. E nenhuma dessas cidades tem escolas de placas.

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