Rede estadual de ensino debate racismo e educação antirracista

Detalhes

Gestoras e estudantes compartilharam experiências de enfrentamento ao racismo nas unidades escolares e na sociedade durante webinário

Em webinário promovido pelo Instituto Unibanco (IU) e a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) nesta segunda-feira (30/11), gestores educacionais e estudantes da rede pública estadual discutiram o racismo e outras formas de combatê-lo no ambiente escolar.

Com o tema “Educação Antirracista em Goiás: Reflexão a Partir de Algumas Experiências”, o evento online teve participação da secretária estadual de educação, Fátima Gavioli, uma gestora da Centro de Ensino em Período Integral (Cepi), uma diretora de um colégio quilombola e dois estudantes negros de Cepis.

“Alguns podem questionar: no século 21, em 2020, é necessário mesmo falar de racismo ainda? Basta ligar a televisão e ver dois ou três noticiários que você vai ver que estamos muito longe de passar para outro nível na questão do combate ao racismo”, afirmou a secretária de Educação.

“A equidade racial é um princípio que deve organizar a gestão escolar. Existe uma relação intrínseca entre as desigualdades raciais existentes na sociedade e as desigualdades de aprendizagem nas escolas. Essa correlação precisa ser nomeada. A gente precisar falar dela, analisar os dados, dialogar com gestores, estudantes e professores”, destacou o gerente de Planejamento e Articulação Institucional do Instituto Unibanco, Tiago Borba.

Colégio Estadual Delfino Oclécio Machado
Colégio Estadual Delfino Oclécio Machado, em Luziânia

Trabalho diário e interdisciplinar
Como enfatizaram as gestoras Gislene Mendes e Rita Cássia Pessoa de Souza, do Cepi Cruzeiro do Sul e do Colégio Estadual Quilombola Jardim Cascata, respectivamente, temas relacionados ao racismo devem ser abordados o ano todo e de forma interdisciplinar, não ficando restritos ao mês da consciência negra ou apenas em aulas específicas.

“Nós trabalhamos o racismo na sala de aula, no currículo escolar, como diz a Lei 10.639, nas aulas de História e em outros conteúdos também. Mas esse aprendizado, esse questionamento, se dá também nos corredores”, compartilhou a diretora Gislene.

“Trabalhamos o racismo, o preconceito, o empoderamento, a questão étnico-racial todos os dias. Os professores de Português trabalham textos de autores negros; os professores de Matemática, estatísticas sobre o racismo, trabalho, preconceito, negritude.”, ressaltou Rita Cássia.

Identidade negra

“O racismo destrói a gente. Ele é muito aparente, principalmente no contexto escolar, que é onde a gente começa nosso convívio social. Sou um jovem negro e periférico, mas para eles sou marginal, sou violento”, desabafou Rafael Teles, aluno do Cepi Cruzeiro do Sul.

Para ele, a forma de estabelecer uma agenda antirracista na escola é por meio do protagonismo juvenil que pode contribuir para desconstruir ideias erradas sobre a negritude. “O racismo deixa a gente inseguro para assumir nossa identidade”, avaliou o estudante.

Rafael contou que no 7º ano do Ensino Fundamental ele alisava o cabelo e comparava seu tom de pele ao dos outros amigos para decidir quem deles era mais claro e mais bonito. Neste ano, porém, ele agiu diferente. “Quando eu fui para a escola, eu estava de trança. E recebi o apelido Jamaica, que é como sou conhecido hoje. E foi bom pra mim porque eu percebi que eu tenho uma identidade. Eu sou quem eu sou. E isso inspirou meus colegas de classe e meus amigos a deixarem o cabelo crescer”, diz Rafael.

Padrão de beleza

Estudantes negras do Colégio Estadual Delfino Oclécio Machado
Estudantes negras do Colégio Estadual Delfino Oclécio Machado, em Luziânia

A estudante Karenn Christina, também do Cepi Cruzeiro do Sul, compartilhou sua experiência de discriminação racial e falou sobre o processo de autoaceitação e valorização da beleza negra. “Um dia eu estava indo para a igreja, com minha amiga, e um menino chegou perto de mim e falou assim: ‘ô, menina, me dá um pouco de Bombril. Minha casa está precisando para lavar as vasilhas’. E começou a rir de mim, debochar da minha cara. E eu somente continuei andando em frente. Foi um momento difícil para mim”.

“Uma vez eu pesquisei no Google ‘cabelo feio’ e saiu várias imagens de cabelo afro. E quando pesquisei ‘cabelo bonito’, saiu só cabelo liso”, criticou Karenn. Para enfrentar essa forma de racismo, a aluna foi líder de um Clube Juvenil na sua escola para ajudar outras garotas a se aceitarem e a valorizarem as diferentes formas de beleza. Karenn também organizou um desfile para o Dia da Consciência Negra em que foram representadas diferentes raças, não só a negra, para mostrar a diversidade.

Resgate da cultura
Rita Cássia, diretora do Colégio Estadual Quilombola Jardim Cascata, lembrou que assumiu a gestão da unidade escolar, no início deste ano, com o intuito de resgatar a identidade quilombola da escola, que estava se perdendo. O nome da instituição de ensino foi alterado e a entrada do prédio ganhou um grafite temático, reproduzindo a figura de uma mulher negra.

Grafite colégio quilombola jardim cascata

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