Colégio Estadual Jardim Cascata, em Aparecida de Goiânia, realiza ação em celebração ao dia da Consciência Negra

Detalhes

Ação contou com a participação do artista urbano Decy e de membros da comunidade escolar

Foi por meio da arte que o Colégio Estadual Jardim Cascata, localizado em Aparecida de Goiânia, celebrou o Dia da Consciência Negra neste ano. A unidade escolar, pertencente a comunidade quilombola urbana Jardim Cascata, abriu as portas na última quarta-feira (18/11) para que o artista urbano Decy grafitasse a figura de uma mulher negra na entrada do prédio.

A ideia de ilustrar a imagem em uma das paredes do colégio surgiu da própria diretora, Rita Cássia Pessoa de Souza. Segundo Rita Cássia, com a suspensão das aulas presenciais e após as recentes reformas realizadas na unidade escolar, a escola necessitava de mais alegria, identidade e empoderamento.

O primeiro passo foi, então, entrar em contato com a secretária da Educação de Goiás, Fátima Gavioli, e com a equipe escolar para apresentar a ideia. “Conversei com ela (secretária) sobre a importância dessa figura retratada em forma de grafite e que daria visibilidade para a nossa comunidade, que é uma comunidade quilombola, diferenciada. E ela, com todo o carinho, aprovou a proposta e autorizou.”, conta Rita Cássia.

Com a proposta aprovada, o próximo passo foi definir qual seria o desenho a ocupar um espaço nas paredes da escola. De acordo com o artista, Decy, foi ele quem deu a ideia de representar uma mulher negra, realizando o icônico sinal de “wakanda sempre”. “Eu escolhi o desenho porque é um desenho que representa muito. Ele representa o povo quilombola e, por isso, nós decidimos fazer ele logo na entrada, para a pessoa chegar e já se identificar”, ressalta o artista.

Artista urbano Decy trabalha na construção da imagem

Educação Escolar Quilombola

As temáticas relacionadas ao Dia da Consciência Negra costumam fazer parte do cotidiano dos 592 estudantes do Colégio Estadual Jardim Cascata. Segundo a gestora Rita Cássia, ações pedagógicas voltadas a temas como a aceitação, o racismo e o preconceito fazem parte do dia a dia em sala de aula e são abordadas, inclusive, de forma interdisciplinar na Educação Escolar Quilombola.  

“Aqui, desde a primeira semana de aula, a gente começa a trabalhar a questão da consciência, do empoderamento e da valorização desses alunos enquanto negros”, conta o professor João Pereira Nunes, que ministra a disciplina de História. Para ele, a abordagem cotidiana desses assuntos, em especial nas aulas de história, contribui para que os jovens se conscientizem sobre quem são e saibam valorizar a sua identidade étnico-racial.

O mesmo acontece nas aulas de Música e de Educação Física, ministradas pelo professor Elias Lopes Pereira. De acordo com ele, mesmo diante da pandemia de Covid-19 e do cotidiano das aulas não presenciais, a escola tem conseguido atingir seus objetivos.

“Para mim estar dando aula no sistema remoto é uma novidade e eu acredito que nós estamos nos saindo muito bem. Nós estamos tendo uma devolutiva muito bacana dos alunos, porque buscamos criar uma aula muito bem elaborada para que os alunos, mesmo estando em casa, participem e façam a devolutiva para a gente”, destaca o professor.

Diferencial da escola

Além do currículo, outro aspecto que tem chamado a atenção dos alunos são as melhorias realizadas na infraestrutura da escola. Contemplado com recursos do Programa Reformar Goiás no valor de R$ 330 mil, o colégio realizou uma reforma geral na infraestrutura e deu início a ampliação de duas salas de aulas. Recentemente, a unidade também recebeu o repasse de recursos do Governo de Goiás para a cobertura da quadra esportiva.

“Hoje ela (a escola) está acolhedora e esse é um diferencial. Os alunos, quando vem buscar algum documento ou as atividades, comentam o como a escola está bonita, diferente, ‘dá vontade de voltar’”, conta a coordenadora pedagógica da unidade, Quézia Correa Calixto de Faria. Para ela, as melhorias no prédio têm sido um diferencial para que os estudantes tenham interesse em estudar na unidade.

Interesse esse que é confirmado pela estudante Luana Teixeira, do 9º ano. Matriculada na escola no início do ano de 2020, a aluna não teve a oportunidade de participar das aulas presenciais, mas já lamenta por ser o seu último semestre na unidade. “Eu queria que aqui tivesse o Ensino Médio, porque aqui é muito bom. Em outros colégios que estudei eu sempre fui humilhada pela cor e pela aparência e aqui não. Aqui eu posso ser quem eu sou”, reforça a estudante, que sonha em ser esteticista ou advogada.

Ao lado da mãe, a estudante Luana lamenta por ser o seu semestre na escola

Para a gestora Rita Cássia é com a conscientização, realizada não só na escola, mas também em casa, que situações como a enfrentada pela aluna Luana chegarão ao fim. “Para nós, o reconhecimento, a autoaceitação, os alunos terem essa noção de que somos negros e se empoderarem é importante demais para nós da comunidade. E essa consciência tem que ser geral, não só nessa data, mas nos 365 dias do ano”, afirma.

Já para a escola, as perspectivas para o futuro são as melhores possíveis. “Isso é o que representa a consciência negra, representa a gente e eu me identifico bastante”, conclui a estudante Débora Souza Araújo, do 7º ano, ao se deparar com o novo grafite de uma figura negra, forte e empoderada.