Rede estadual tem duas duplas, formadas por alunas e professoras, na final da Olimpíada de Língua Portuguesa
- Detalhes
Estudantes classificadas se preparam para o encontro nacional, que definirá os grandes vencedores nos dias 9 e 10 de dezembro, em São Paulo
Brazabrantes é um município do interior de Goiás com pouco mais de 3 mil
habitantes. Lá, meninos e meninas aproveitam o pouco movimento das ruas para
jogar a tradicional “pelada”, algo cada vez mais raro nas grandes cidades.
E foi brincando de bola com os amigos no asfalto que a aluna Adriely
Stefany Ferreira de Lima, do 8º ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual
Vila Nova, teve inspiração para produzir a crônica "Haja Tampa de Dedo!!",
texto que está entre os finalistas da 6ª edição da Olimpíada de Língua
Portuguesa (OLP).
“Quando chutamos a bola, muitas vezes ficamos sem a ‘tampa do dedo’”,
explica a estudante, entusiasmada com a conquista. “Ao perceber que eu estava
indo a São Paulo para concorrer à medalha de prata, tive a sensação de que eu
era capaz! Que eu queria participar várias outras vezes. Foi incrível!”, afirma.
Para a elaboração do texto, Adriely teve o acompanhamento da professora de
Português Cristiane Silva Ferreira. A estudante relata que nunca teve muita
dificuldade com leitura e escrita, creditando sua desenvoltura ao trabalho realizado
pela escola, onde, segundo ela, cada aluno tem de ler um livro por semana.
De Rio Verde
Além das duas, também já são finalistas pela rede estadual de ensino a aluna Vitória Lima Gonçalves, do 7º ano da Escola Estadual de Tempo Integral (EETI) Cunha Bastos, de Rio Verde, e a professora de Português Viviane dos Santos da Silva Rêgo, que acompanhou a estudante na produção. Elas concorrem no gênero ‘Memórias Literárias’, com o texto intitulado “Das Telas à Vida Real”.
Vitória levou para a OLP uma memória familiar, contando a história de amor do seu avô pelo Cine Regente, em Rio Verde, onde ele e a família trabalharam por anos. "Eu gostei muito de produzir o texto e de estar em São Paulo, com monitores, conhecendo pessoas de outros lugares que nem imaginávamos. Fizemos novas amizades e foi maravilhoso", destaca a estudante.
A professora Viviane Rêgo explica que o relato da aluna contagiou os organizadores da competição. “Ela contou com bastante lirismo, emoção e veracidade a memória dela”, afirma. Vitória recheou o texto de detalhes, citando o cuidado do avô em preservar a história do cinema em fotografias, recortes de jornal e até nos antigos ingressos para as sessões. “É uma emoção muito grande e uma conquista para Rio Verde. Para nós, já é um título, mas estamos confiantes para a final. Esperamos o ouro. Mas, se não vier, já está bom demais”, enfatiza a professora.
Premiação
As duas alunas goianas, finalistas na Olimpíada, foram selecionadas durante a Oficina Regional de Escrita, que está sendo realizada pela OLP em São Paulo, de acordo com cada categoria em disputa na competição. Para o gênero ‘Crônica’, as atividades ocorreram entre os dias 23 e 25 de outubro e para ‘Memórias Literárias’, de 28 a 30 de outubro.
As oficinas de ‘Poema’, ‘Documentário’ e ‘Artigo de Opinião’, demais gêneros
da Olimpíada, serão promovidas no período de 4 a 19 de novembro, quando serão
conhecidos os últimos finalistas. Outros oito estudantes da rede estadual de
ensino, ao lado de seus professores, disputam vaga na finalíssima nos gêneros ‘Artigo
de Opinião’ e ‘Documentário’.
As duplas já classificadas para a final se preparam agora para o Encontro Nacional, nos dias 9 e 10 de dezembro, no qual estarão reunidos os 178 finalistas de todo o Brasil e do qual sairão os 28 estudantes vencedores da Olimpíada. No mesmo mês serão divulgados os nomes dos campeões, em cerimônia de premiação.
Oficinas de escrita
As oficinas possibilitaram aos professores e alunos selecionados na etapa
regional uma imersão em leitura e escrita. Eles puderam aperfeiçoar seus
textos, além de participarem de uma vasta programação cultural oferecida pela
organização da OLP. Inscrita na categoria ‘Crônica’, a professora Cristiane
Ferreira, da Escola Estadual Vila Nova, em Brazabrantes, conta que os
professores tiveram formação e aperfeiçoamento em prática pedagógica para a
OLP, enquanto os estudantes conheceram mais sobre o gênero para o qual
concorriam.
Com orientação de especialistas, os participantes estiveram na Pinacoteca
de São de Paulo e os alunos tiveram de fotografar um momento da visita, criar
legenda e título para a foto para, a partir de então, produzirem uma nova
crônica sobre a imagem. Assim, a comissão julgadora pôde decidir os
classificados ao comparar os textos produzidos anteriormente na escola, e
enviados para o concurso, com os que foram elaborados no evento.
O comparativo também ocorreu para o gênero ‘Memórias Literárias’. No caso da estudante Vitória Gonçalves, ela também escreveu um novo texto durante as oficinas. A produção foi realizada a partir de uma entrevista que ela fez com a poeta e escritora Geni Guimarães.
Em São Paulo, os classificados ainda participaram de um sarau, quando
puderam mostrar seus talentos artísticos, e de uma palestra e entrevista com o
escritor Jessé Andarilho.
Momento transformador
Professora de Português e Inglês, Cristiane Ferreira entrou para a rede
estadual de ensino em 2010. Desde então, ela e seus estudantes participam da
Olimpíada de Língua Portuguesa, mas foi a primeira vez que conseguiram ser
semifinalistas e garantirem uma vaga na final. “É um
evento único e transformador para os professores de Língua Portuguesa.
Participar do concurso incentiva a leitura e a escrita. Não há dúvidas. Mas o
interessante é que também incentiva a valorização do lugar em que eles vivem. Como professora, essa classificação representa
um incentivo a permanecer em sala de aula e continuar desenvolvendo meu
trabalho nas escolas em que atuo. No fundo, é um reconhecimento ao meu
trabalho”, afirma a educadora.
Sobre a Olimpíada
Participam da Olimpíada de Língua Portuguesa alunos do 5º ano do Ensino
Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. O tema do concurso é “O Lugar Onde
Vivo”. A Olimpíada é realizada pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com
a Fundação Itaú Social e tem coordenação técnica do Centro de Estudos e
Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). O concurso objetiva
apoiar professores da rede pública na melhoria das práticas de ensino e no
desempenho dos alunos em leitura e escrita.