Fica 2018 - Laís Bodanzky, Susana Lira e Bruna Linzmeyer abordam a representação das mulheres no cinema brasileiro

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Convidadas discutiram suas trajetórias pessoais no audiovisual e o protagonismo das mulheres no cenário contemporâneo

Na 20ª edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental – Fica 2018, o jardim da Casa de Cora abriu suas portas às cineastas Laís Bodanzky e Susana Lira e à atriz Bruna Linzmeyer para um debate sobre a trajetória das mulheres no Cinema. A discussão aconteceu no final da manhã desta sexta-feira (8). mediada pela professora de cinema da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Ceiça Ferreira.

Sob a sombra das árvores e a brisa do Rio Vermelho, as representantes do cinema ficcional, da interpretação e do documentário brasileiros agradeceram a oportunidade de participar da edição de 20 anos do Fica com um tema tão importante como a presença das mulheres na indústria audiovisual com diversidade e protagonismo. Laís Bodanzky já esteve no festival há oito anos com o longa As Melhores Coisas do Mundo e participa do júri de premiação da Mostra Competitiva de 2018 ao lado de Susana Lira. Bruna ficou encantada com o envolvimento de toda a cidade com o Festival e espera voltar ao Fica representando algum filme.

A diretora e roteirista do filme brasileiro mais premiado em 2017 (Como Nossos Pais, 2016) vivenciou o cinema dentro de casa desde pequena. Filha do cineasta Jorge Bodanzky, Laís não foi submetida às barreiras de gênero que dificultam o acesso das mulheres à criação na indústria do cinema, mas muitas de suas produções refletem a temática. A cineasta costumava se chamar de “camerawoman” (“mulher da câmera”), um trocadilho com a palavra cinegrafista em inglês, que é cameraman ou “o homem da câmera” em tradução livre. Ela já tratava de questões como a presença feminina em espaços restritos aos homens desde o começo da carreira, com o curta Cartão Vermelho sobre uma adolescente que gostava de jogar futebol. Mais para frente na sua carreira, a discussão de temas relacionados à mulher passa a vir de uma reflexão ativa e de um estado de alerta para a desigualdade de gênero não só na cadeia produtiva do audiovisual, como em todas as esferas da sociedade.

A carreira da Susana Lira, criadora da série Rotas do Ódio, em exibição na TV por assinatura, veio de um processo diferente. A vontade de fazer cinema surgiu durante a faculdade de Jornalismo com o filme Um Cabra Marcado para Morrer, de Glauber Rocha. Susana se descobriu enquanto documentarista e discussões relacionadas às vivências das mulheres brasileiras surgiram de forma natural em suas produções. Filha de mãe solteira, a diretora nunca duvidou de sua própria força nem deixou calar sua voz. Seus documentários são uma ferramenta para modificar os signos históricos que aprisionam as mulheres em determinadas posições na sociedade. Apesar do cenário ainda pouco otimista, Susana acredita que é seu papel, e de outras mulheres no cinema, estimular a presença feminina na indústria desde a escolha das equipes até a formação de novas cineastas.

Na outra ponta das produções, a atriz Bruna Linzmeyer reflete seu papel enquanto receptora de histórias criadas por outras pessoas. Sua posição é vulnerável não só aos ciclos de silenciamento a que as mulheres estão submetidas em uma indústria comandada por homens, mas também a situações de assédio moral e sexual nos sets de filmagem. Bruna também questiona as trajetórias de personagens femininas, sempre relativas à maternidade ou a seus companheiros e criadas pensadas de forma a desumanizar as mulheres. A atriz alerta para a necessidade de pensar novos papéis que representem outras histórias vividas por mulheres, de criar personagens imperfeitas e que também não sejam somente heterossexuais e brancas, como é o costume. Mas, para que isso aconteça, as três reforçam a necessidade de haver mais mulheres por trás das câmeras. A cadeia do audiovisual é capitaneada por homens brancos e isso influencia diretamente as histórias que estão sendo contadas.

O conteúdo transmitido no cinema e na televisão faz parte do imaginário das pessoas. As obras exibidas em pouco mais de 100 anos da história do audiovisual contribuíram para que as mulheres sejam vistas como secundárias e periféricas pela sociedade. As reflexões propostas no Fórum de Cinema do Fica podem ajudar na construção de obras que desfaçam estas ideias e favoreçam um equilíbrio maior entre os gêneros em todas as esferas da sociedade. Em uma coletiva de imprensa que seguiu a mesa de debate no jardim de Cora, a documentarista Susana Lira declarou que espaços como o do Fica colaboram para que exista uma troca entre público e realizadores. Bodanzky acredita que são estes circuitos alternativos que dão acesso a um maior protagonismo de grupos tradicionalmente marginalizados no mercado audiovisual. Na teledramaturgia, Bruna julga que o processo é mais lento e demanda que os profissionais atuem nas brechas, oferecendo de pouquinho em pouquinho mais espaço para personagens e cineastas de outros gêneros, sexualidades, raças e realidades.

Fotos: Flávio Isaac

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