Inspirado em um professor que conheceu na adolescência, educador da rede estadual incorpora estilos do momento, como o funk, em sua metodologia de ensino

Durante o Ensino Médio, dois acontecimentos foram responsáveis por dar novo direcionamento para a vida do professor José Francisco da Silva Júnior, hoje com 32 anos. Um deles foi a reprovação em matemática no 1º ano e o outro, dois anos depois, já no 3º ano, quando ele teve a chance de ser aluno de um professor que transformava as sisudas aulas de química em momentos prazerosos.

O baixo desempenho em matemática, ao contrário de desmotivar o adolescente, serviu-lhe para chamar a atenção sobre o fato, fazendo-o priorizar a disciplina a partir daquele momento. Quanto às aulas de Química, José Francisco recorda que, até então, não tinha visto nada igual. “Sempre achei essa matéria difícil, mas com esse professor aprender aquelas complicadas fórmulas era fácil e muito divertido. Além disso, como ele era muito atencioso e companheiro, despertava confiança e era visto por todos como um exemplo de profissional e ser humano. Quando eu o via em sala de aula, me identificava tanto que descobri ali minha verdadeira vocação”.

Possivelmente o educador que inspirou a escolha profissional de José Francisco nem imagina que foi o responsável por motivar ali, na rotina de suas aulas, o surgimento de mais um professor que, anos mais tarde, também faria a diferença na vida de tantos outros jovens.

Olha o funk, galera!

Desde 2016, após ter se formado em matemática pela PUC/Goiás, José Francisco é professor na rede estadual de ensino. Hoje ele leciona para turmas de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental no Colégio Estadual José Peixoto Neto, em Nova Veneza. E para quem tem a chance de assistir uma aula ministrada por ele é impossível não notar o clima de entrosamento e de amizade entre professor e alunos.

Em sua metodologia de trabalho, o educador diz que tem dois companheiros inseparáveis, que são o computador e a música. “Uso sempre animação e gifs porque esses recursos facilitam a assimilação. Além disso, procuro mostrar que a matemática está presente em praticamente tudo e por isso é muito necessária”.

Segundo ele, após concluir o estudo de um determinado conteúdo, chega a hora do aprendizado com diversão. É nesse momento que o professor descontrai as aulas e apresenta paródias trazendo as fórmulas matemáticas já ensinadas e melodias inspiradas em hits do momento. A maioria funk.

“Eu pego justamente os artistas que estão ‘bombando’ nas mídias e redes sociais porque os alunos já estão familiarizados com isso e fica mais fácil ensinar”. Entre as inspirações do professor estão os sucessos de Pablo Bittar, Bonde do Tigrão, MC Cidinho e Doca (trilha sonora do filme Tropa de Elite), Wesley Safadão, entre outros. No link abaixo confira a animação das aulas ministradas por MC Zé, como é carinhosamente conhecido na escola.

Desde quando conheceu seu professor inspiração – Celso Lourenço (Biscoitão) -, José Francisco diz que sua filosofia de vida passou a ser ‘fazer a diferença onde for’. “Na convivência com esses jovens, também aprendo muito com eles e procuro ensinar não apenas matemática, mas também valores essenciais como companheirismo, respeito ao próximo e às diferenças, solidariedade, gentileza e compaixão. Coisas tão necessárias para termos um mundo melhor”, diz o professor, que atualmente cursa Engenharia Civil e diploma de mestrado em Física.

A diretora da escola, professora Geovanna Stival, ressalta que a forma de trabalho do professor inovou as práticas pedagógicas da escola, já que os demais professores se sentiram estimulados a também incorporarem os recursos da tecnologia em suas aulas.

*Por Maria José Rodrigues, do Caderno Escola - Tribuna do Planalto