Os Ciclomáticos transformaram a terceira noite de programação da 16ª edição da Mostra Nacional de Teatro de Porangatu em uma grande festa popular. De forma leve e divertida, o espetáculo A Farra do Boi Bumbá contou uma versão de uma das mais conhecidas histórias do folclore brasileiro: a lenda do Boi-Bumbá, personagem também conhecido como Bumba Meu Boi, dependendo da região do país. A apresentação trouxe elementos da cultura nordestina que se fizeram presentes não só nas músicas, como também nas danças, no figurino dos atores e atrizes e nos contos do folclorista Câmara Cascudo, narrados pelos personagens.

Sob a direção de Ribamar Ribeiro, a versão apresentada pela trupe contou a história de Pai Chico e sua esposa Catirina, que estava grávida e sentiu desejo de comer a língua de um boi em específico, que fazia parte do rebanho do local em que trabalhavam. O marido, tentando atender ao pedido da companheira, retirou a língua do animal mais querido do dono da fazenda. O resultado foi uma confusão que se instalou devido ao sumiço desse boi e ao desespero do patrão, que não mediu esforços para ter o animal de volta.

 A trupe prendeu a atenção da plateia do início ao fim. Já nas primeiras cenas, Pai Chico e Catirina interagiram com as pessoas que lotaram o Teatrão, escolhendo um homem para representar o boi que teria sua língua arrancada. “Diga as suas últimas palavras bem aqui no pé de meu ouvido”, impôs Pai Chico em alto e bom som ao mais novo participante da peça. Como em um passe de mágica, o personagem retirou do convidado a tal “língua” que sua esposa tanto queria. A cena de improviso gerou muitas gargalhadas de quem acompanhava o espetáculo. O riso também se fez presente ao longo das várias tentativas empreendidas pelo dono da fazenda de ressuscitar o animal, que incluíram a busca por um médico, um padre e uma curandeira.

 Outra cena de destaque do espetáculo foi aquela em que Pai Chico confessou ao patrão que arrancou a língua do boi. O dono da fazenda se enfureceu, mas Catirina assumiu a responsabilidade do ocorrido imediatamente. Ela explicou que seu esposo agiu por amor com o objetivo de atender a um pedido seu e que ele não tinha a intenção de ferir o animal ou trazer algum tipo de prejuízo. Nesse momento, a apresentação fez referência direta ao longa-metragem O Auto da Compadecida, resgatando a cena em que Nossa Senhora Aparecida fez um discurso sobre culpa inocento João Grilo em seu julgamento.

 A montagem chegou ao fim com uma promessa do patrão: “se meu boi viver, eu prometo contar essa história em vários cantos do país”. Nesse momento, o animal entrou em cena, mostrando que o milagre aconteceu e deixando claro a origem da lenda do Boi-Bumbá. O proprietário da fazenda perdoou Pai Chico e todos dançaram juntos, dando início a uma grande festa folclórica.

Outros espetáculos

O terceiro dia de programação do TeNpo 2017 também contou outras duas apresentações: A Fantástica Máquina Humana, do Grupo Sonhos Teatro Ritual, e William Wilson, da Cia Teatral Oops!. O primeiro espetáculo, um infantil dirigido por Fernando Rocha, trouxe a história de três crianças que sonhavam em realizar o seu primeiro voo sobre o oceano. A montagem abordou de forma leve e sensível elementos históricos importantes como a primeira travessia aérea do oceano Atlântico, empreendida pelo piloto americano Charles Lindbergh, e alguns feitos de Amelia Mary Earhart, pioneira na aviação dos Estados Unidos e primeira mulher a tentar fazer um voo ao redor do mundo. Em seu roteiro, a peça falou da realização de sonhos.

 Com um tom diferente dos outros dois espetáculos apresentados nesse sábado, 18 de novembro, William Wilson trouxe à Mostra uma proposta mais densa e reflexiva. A entrar no Teatro do Centro Cultural de Porangatu, o público já sentiu um clima diferente: um ambiente com pouca luz e uma banda tocando rock psicodélico. Essa foi a tônica de toda a apresentação que abordou o caso de dois homens que, apesar de histórias diferentes, receberam o mesmo nome. A montagem explorou diferentes conflitos que surgiram

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